Vivemos no país do futebol.
Que garoto nunca sonhou em ser um grande jogador, um novo craque, jogar no time
do coração ou ser o camisa 10 da Seleção? Muitos tentam, poucos conseguem. Mas
quando existe a chance de realizar o sonho e para isso é preciso deixar tudo
para trás, sua casa, sua família, seus amigos e tudo o que conhece?
Tornou-se comum os times de futebol irem atrás de
talentos cada vez mais jovens e de outros lugares que não a cidade natal do
clube. Não por acaso, vemos as categorias de base das agremiações com alguns
jogadores oriundos de outros lugares do país, ou até mesmo de outros cantos do
mundo.
Cada garoto possui responsáveis cujos quais devem tomar a
decisão de deixá-lo perseguir seu sonho ou impedi-lo. Ir junto, arriscar a
sorte ou não arriscar. Quantas histórias devem existir, em tantos lugares,
espalhadas por aí, em qualquer esquina.
Algumas famosas, outras desconhecidas. Mas aqui serão contadas duas, de coisas
que aconteceram, acontecem e ainda podem acontecer, de jovens que apostaram
tudo em busca do objetivo de ser um jogador de futebol.
Pablo Andrade
Começou no futebol com nove anos, no Vasco, time de sua cidade natal. Quando jogava no CFZ Rio (Centro de Futebol Zico) alguns olheiros do Grêmio estavam presentes em um treinamento para acompanhar atletas que interessavam ao clube. Ele acabou por chamar a atenção e em um mês já estava em Porto Alegre, a 1105km de distância de sua casa.
Em sua primeira temporada no clube gaúcho recebia ajuda de custo e moradia, e no ano seguinte firmou um contrato de três anos de duração. Pablo conta que no início foi complicado, pois era a primeira vez que ficava longe da família. Com o decorrer do tempo a saudade só aumentava, principalmente por saber que ficaria um ano longe de casa, até que chegassem as férias.
Apesar da dificuldade, era seu sonho e, consequentemente, também o de seus pais. Ter uma chance em um dos maiores clubes do Brasil, a família sabia desde o começo o tamanho do desafio a ser enfrentado, mas era a chance de almejar algo grande na carreira do garoto.
Jogadores de futebol, quando saem de casa cedo, abrem mão de curtir a infância para se concentrar apenas no esporte. O tempo livre era para matar a saudade da família e amigos. Na época de Grêmio, Pablo utilizava a rede social MSN e também um telefone da marca Nextel. E o contato foi fundamental para ele seguir firme e não desistir: “As pessoas que sempre quiseram meu bem me deram força para seguir em frente, que lá na frente eu seria recompensado e teria muito tempo pra curtir com a família e amigos. Hoje não me arrependo de nada.”, declarou.
Mas não eram poucas as vezes em que a vontade de largar tudo e voltar para casa batia. “Nem sempre as coisas são maravilhosas a todo instante, então quando algo dava errado, a primeira coisa que eu pensava era em ir pra casa ficar com minha família.”, confidenciou Pablo. E foi por motivos pessoais que, aos 16 anos, retornou ao Rio de Janeiro.
Porém, a adaptação à capital gaúcha não foi um dos problemas: “graças a Deus fiz amigos que me ajudaram muito e, com o passar do tempo, a gente vai amadurecendo e acaba ficando tudo mais fácil. Amei morar em Porto Alegre, as pessoas me acolheram muito bem.”, finaliza.
Pablo na base do Grêmio (E), e hoje no Silva SD (D, de preto com a bola) |
Pedrinho e Jean Café
Os irmãos Pedro Bruno Gomes, o Pedrinho, e Jean Lucas
Gomes, o Jean Café, de 15 e 16 anos, respectivamente, nasceram em Lages, município no sul de
Santa Catarina, a 345km de distância de Porto Alegre, cidade do Sport Club Internacional e onde moram
atualmente. Desde os seis anos de idade atuam em clubes de futebol, mas
começaram no futsal.
Foram descobertos quando atuavam no Figueirense, de
Florianópolis, por olheiros do Internacional. Então realizaram um acordo
para fazerem um teste no Colorado, no qual obtiveram sucesso. O processo de
mudança levou um ano, no qual eram monitorados de perto. No final de 2017
completarão quatro anos em solo gaúcho. Na mudança foram os dois garotos, o
pai, a mãe e a irmã caçula.
De acordo com o pai, que também se chama Jean, a decisão
foi tomada pela vontade dos jovens jogadores, que são apaixonados pelo esporte.
Após o contato dos olheiros, teve uma conversa com os filhos e perguntou se
eles queriam ir para o Rio Grande do Sul, Então recebeu como resposta um
"vamo embora, a gente quer ir".
Tiveram de mudar completamente suas vidas. Como Pedrinho
e Jean Café eram muito novos (11 e 12 anos, respectivamente), o pai achou melhor
não deixá-los sozinhos e acompanhá-los. Como a família toda foi junto, se
instalaram em Porto Alegre. O clube oferecia moradia para os garotos nos
alojamentos do Centro de Treinamento localizado na cidade de Alvorada.
O mais difícil para os catarinenses foi deixar a família
e os amigos para trás. Três anos se passaram e ainda é complicado superar a falta deles.
Por diversas vezes pensaram em voltar, se estava certo continuar ali, sempre
havia uma interrogação na cabeça de cada um. O pai, a mãe e a irmã resolveram
acompanhar os garotos justamente por que sabiam que sozinhos eles não
resistiriam e retornariam para Lages.
Para matar a saudade, nas férias e em todo o tempo livre
que conseguem, viajam rumo ao antigo lar, visitar os entes queridos. O contato
é diário, através do celular. No início, como não existia ninguém da família ou
nenhum conhecido em Porto Alegre, foi difícil. Chegar em uma cidade grande,
perigosa, costuma ser intimidador. Mas receberam todo o suporte possível do
novo clube, o Internacional.
Durante o primeiro ano, os garotos ficavam apenas dentro
de casa e passavam os finais de semana exclusivamente com a família. No máximo
iam ao shopping. Não existiam laços sociais. Hoje, quase quatro anos depois,
Pedrinho e Jean Café já sentem como se Porto Alegre fosse a casa deles. Se
acostumaram com o clube, com as pessoas, com a cidade. Agora é seguir com
dedicação para fazer com que essa se torne uma história de superação e sucesso.
Pedrinho (E), o pai, Jean (C) e o irmão, Jean Café (D) |
Por: @RenanDelari