“O Fla-Flu não tem começo. O Fla-Flu não tem fim. O Fla-Flu
começou quarenta minutos antes do nada. E aí então as multidões despertaram.” O
grande Nelson Rodrigues deixa bem claro que um Fla-Flu não tem início e muito
menos um fim, e o deste domingo (5) parece que se encaixa com uma luva nesse
contexto descrito pelas breves palavras do dramaturgo. Um clássico que foi
muito além das quatro linhas, onde por sinal foi espetacular, principalmente e diria
até que exclusivamente para o lado flamenguista, mas que ficará marcado muito
mais pelo seu antes e depois, onde a indignação se transformou em uma bolinha
de ping-pong, que em instantes, vai de um lado para o outro.
Antes da bola rolar, Luxemburgo foi o cara da vez, em uma
atitude “Luxemburguiana”, que no entanto, desta vez, deve ser louvada. O
treinador não deu a cara somente a tapa, mas entrou em uma briga onde estaria
apto a levar muita porrada. Porrada. A palavra que rendeu tanto nesse pré
Fla-Flu e já pode ser considerada um símbolo desse Campeonato Carioca, pois, a
atual situação entre clubes (nem todos, deve-se deixar claro) e federação é típica
de troca de socos e pontapés, ou simplesmente, de porrada. A porrada que saiu
da boca do professor flamenguista, e soou aos ouvidos da FFERJ como incitação à
violência contra a entidade, teve seu preço, e impediu Luxa de estar à beira do
gramado, entretanto, o gesto antes da bola rolar dos atletas tampando as bocas
e “se calando” mostrou que o treinador estava ali.
No gramado lances de encher os olhos, seja de brilho pelo
lado rubro-negro, ou de lágrimas pelo lado tricolor. Logo de cara, ainda com
menos de vinte minutos de jogo, Jonas, conhecido como nada mais, nada menos do
que o “Schweinsteiger do Maranhão”, acertou um chute que renderia aplausos até
do Schweinsteiger original, o alemão, para abrir o placar a favor do Flamengo.
Já no segundo tempo, Alecsandro, precisou rebolar, literalmente, para mais uma
vez levar o torcedor rubro-negro ao êxtase, ao entortar Diego Cavalieri, e apenas
tocar para o fundo das redes. Redes que ainda balançaram a dois minutos do fim,
quando o garoto Matheus Sávio, mais uma vez honrou o apelido e deixou sua
marca, assim como o outro Sávio também costumava fazer. O juiz apita pela
última vez e o placar indica 3 a 0 para o Flamengo. O suficiente para encerrar
qualquer clássico em grande estilo, contudo, como dizia Nelson Rodrigues, o
Fla-Flu não tem fim. E Fred neste momento, deve estar sentindo exatamente esta
sensação, inconformado que deve estar até agora.
Em meio aos três gols rubro-negros, o atacante tricolor também
se destacou, não como os artilheiros flamenguistas, mas provavelmente até mais
do que eles. Fred foi expulso, injustamente, aos 31 minutos ainda da etapa
inicial, e ao sair do campo de jogo, disparou que o Campeonato Carioca
simplesmente deveria acabar. Uma frase
pesada e que encheu os debates esportivos de domingo, chamando mais atenção do
que o jogo em si. E o campeonato mais charmoso do Brasil, ou como o atacante mesmo
definiu “o ex-campeonato mais charmoso do Brasil” realmente está em ruínas. A
porrada, citada acima, entre clubes e federação, aumenta a cada dia e vem se
tornando o destaque principal do estadual que já rendeu emoções das mais
variadas, mas que seguindo esse rumo pode ter como sentimento único, o frio e
melancólico saudosismo.
As discussões e questões referentes a esse Fla-Flu não
acabarão com as declarações de Fred ou a volta de Luxemburgo, aliás, o provável
é que elas se inflamem ainda mais nos próximos dias. Daqui a anos esse Fla-Flu com certeza será
lembrado e se manterá vivo, como todos os outros, que ficarão marcados por
décadas e séculos, pois como Nelson Rodrigues também dizia “O Fla-Flu, já me
dizia o meu irmão Mário Filho, o Fla-Flu é um jogo para sempre, não é um jogo
para um século, um século é muito pouco para a sede e a fome do Fla-Flu.”
João Pedro Almeida