6 de abr. de 2015

O símbolo da eternidade de um Fla-Flu

“O Fla-Flu não tem começo. O Fla-Flu não tem fim. O Fla-Flu começou quarenta minutos antes do nada. E aí então as multidões despertaram.” O grande Nelson Rodrigues deixa bem claro que um Fla-Flu não tem início e muito menos um fim, e o deste domingo (5) parece que se encaixa com uma luva nesse contexto descrito pelas breves palavras do dramaturgo. Um clássico que foi muito além das quatro linhas, onde por sinal foi espetacular, principalmente e diria até que exclusivamente para o lado flamenguista, mas que ficará marcado muito mais pelo seu antes e depois, onde a indignação se transformou em uma bolinha de ping-pong, que em instantes, vai de um lado para o outro.


Antes da bola rolar, Luxemburgo foi o cara da vez, em uma atitude “Luxemburguiana”, que no entanto, desta vez, deve ser louvada. O treinador não deu a cara somente a tapa, mas entrou em uma briga onde estaria apto a levar muita porrada. Porrada. A palavra que rendeu tanto nesse pré Fla-Flu e já pode ser considerada um símbolo desse Campeonato Carioca, pois, a atual situação entre clubes (nem todos, deve-se deixar claro) e federação é típica de troca de socos e pontapés, ou simplesmente, de porrada. A porrada que saiu da boca do professor flamenguista, e soou aos ouvidos da FFERJ como incitação à violência contra a entidade, teve seu preço, e impediu Luxa de estar à beira do gramado, entretanto, o gesto antes da bola rolar dos atletas tampando as bocas e “se calando” mostrou que o treinador estava ali.
No gramado lances de encher os olhos, seja de brilho pelo lado rubro-negro, ou de lágrimas pelo lado tricolor. Logo de cara, ainda com menos de vinte minutos de jogo, Jonas, conhecido como nada mais, nada menos do que o “Schweinsteiger do Maranhão”, acertou um chute que renderia aplausos até do Schweinsteiger original, o alemão, para abrir o placar a favor do Flamengo. Já no segundo tempo, Alecsandro, precisou rebolar, literalmente, para mais uma vez levar o torcedor rubro-negro ao êxtase, ao entortar Diego Cavalieri, e apenas tocar para o fundo das redes. Redes que ainda balançaram a dois minutos do fim, quando o garoto Matheus Sávio, mais uma vez honrou o apelido e deixou sua marca, assim como o outro Sávio também costumava fazer. O juiz apita pela última vez e o placar indica 3 a 0 para o Flamengo. O suficiente para encerrar qualquer clássico em grande estilo, contudo, como dizia Nelson Rodrigues, o Fla-Flu não tem fim. E Fred neste momento, deve estar sentindo exatamente esta sensação, inconformado que deve estar até agora.


Em meio aos três gols rubro-negros, o atacante tricolor também se destacou, não como os artilheiros flamenguistas, mas provavelmente até mais do que eles. Fred foi expulso, injustamente, aos 31 minutos ainda da etapa inicial, e ao sair do campo de jogo, disparou que o Campeonato Carioca simplesmente deveria acabar.  Uma frase pesada e que encheu os debates esportivos de domingo, chamando mais atenção do que o jogo em si. E o campeonato mais charmoso do Brasil, ou como o atacante mesmo definiu “o ex-campeonato mais charmoso do Brasil” realmente está em ruínas. A porrada, citada acima, entre clubes e federação, aumenta a cada dia e vem se tornando o destaque principal do estadual que já rendeu emoções das mais variadas, mas que seguindo esse rumo pode ter como sentimento único, o frio e melancólico saudosismo.

As discussões e questões referentes a esse Fla-Flu não acabarão com as declarações de Fred ou a volta de Luxemburgo, aliás, o provável é que elas se inflamem ainda mais nos próximos dias. Daqui a anos esse Fla-Flu com certeza será lembrado e se manterá vivo, como todos os outros, que ficarão marcados por décadas e séculos, pois como Nelson Rodrigues também dizia “O Fla-Flu, já me dizia o meu irmão Mário Filho, o Fla-Flu é um jogo para sempre, não é um jogo para um século, um século é muito pouco para a sede e a fome do Fla-Flu.”

João Pedro Almeida